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O malfeito não pode continuar sendo privilegiado
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Publicado em 01/10/2019

               Algumas palavras são de difíceis compreensão e muito mais complicado é conceituá-las. Certos verbetes pertencem ao campo abstrato e subjetivo, tornando-se imensurável simplesmente pelas palavras. Mas por outro lado, todos temos noção do que elas significam, pois basta sentir na pele ou ter um mínimo de sensibilidade social, de percepção com as coisas que acontecem ao nosso redor e empatia pela dignidade.

 

                Fazem parte deste grupo de palavras dor, felicidade, liberdade, desejo, paz, e tantas outras que sabemos o que é, mas não conseguimos expressá-las em sua totalidade e muito menos medir o grau de sua intensidade, mas elas existem e fazem parte do cotidiano das nossas vidas.

                O vocábulo justiça também se enquadra neste contexto. Afinal o que é ser justo? Quando estamos sendo justos? Quando a justiça de fato se aplica? E quando a percepção da justiça sai das questões individuais e particulares e se enquadra nas questões sociais e coletivas? O conceito de justiça deverá ser visto e analisado da mesma forma? São questões aparentemente simples mas que se tornam complexas quando de sua aplicabilidade.

                No Brasil parece que vivemos, além de tantas outras crises, a crise da justiça. Temos uma dificuldade imensa de procurar o justo, estamos sempre esbarrando nos privilégios, que são para poucos; nas relações corporativistas, nas atitudes silenciosas que perpetuam o malfeito, na omissão que reflete a covardia de quem detém os poderes oficialmente constituídos ou no fundo, a descrença de que o Brasil pode ser diferente.

                As leis que deveriam nortear a busca pela justiça, ao que parece torna-se a armadura para esconder o malfeito daqueles que a elaboram. São tantos artigos, parágrafos, incisos e alíneas que se misturam aos princípios constitucionais, que acabam por possibilitar a livre interpretação, fazendo das leis um fantoche que se usa quando e como se quer.

                Claro que essa lógica não se aplica a todo o cidadão brasileiro, que ao viver à míngua, que em muitos casos beira à desumanidade, não consegue sequer ter acesso a seus Direitos, mas sim para manter o privilégio dos colarinhos brancos que insistem em saquear as riquezas da nação.

                Um país que perpetua as relações de injustiça, que protege seus malfeitores, que colabora institucionalmente com a sensação de impunidade provavelmente nunca vai sair do abismo dos seus problemas sociais.

                Enquanto não tivermos a coragem e ousadia de combatermos o nosso maior problema que é a corrupção, perpetuaremos a injustiça. Nenhuma lei bastará para um povo que não quer mudar; nenhuma lei mudará o caráter daquele que a faz ou a opera; só o contrário poderá nos salvar. Afinal, como disse Martin Luther King “a injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar”.

 

Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.

                 

               

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