Na concepção Darwiniana as espécies vivem em um constante processo de evolução. Não sendo diferente para os seres humanos que ao longo dos séculos passou por várias etapas, sendo que em cada uma delas apresentou características distintas.
Assim, de hominídeos, o primeiro estágio da escala evolutiva, nos tornamos Homo Erectus, quando ficamos eretos, depois Homo Sapiens, portanto, detentores de conhecimento e agora no terceiro milênio ousarei dizer que entramos na era do Homo Separatam.
Há algum tempo que estamos nos fechando, nos isolando, criando o próprio mundinho. Chegamos ao ponto de não conhecermos o próprio vizinho, nem sequer o nome dele. São as situações que dizem fazer parte da modernidade.
Mas para nossa surpresa o que vinha acontecendo de forma gradual se acentuou com a propagação da COVID-19. Isolar-se tornou-se a regra social. A segurança da própria existência está no isolamento. Entramos, portanto, em uma nova era, nos tornamos Homo Separatam, e isto quer dizer, a era dos seres isolados.
Todavia, este Homo Separatam apresenta muitas características dos seus ancestrais. As cidades em que vivem transformaram-se em uma selva de pedras; nossas casas podem ser consideradas as cavernas na qual nos confinamos, nos escondemos, e acreditamos ter segurança; só saímos delas para caçar, que podem ser consideradas nossas idas em busca de alimentos; ainda temos medo do perigo, que se esconde na selva, antigamente tínhamos temor dos animais selvagens, hoje em dia de um vírus invisível; sem falar que as roupas estão se encurtando, mostrando que num futuro não muito distante, talvez voltemos a andar nu; o esporte que vem se popularizando é aquele que, dentro de um cercado, que mais parece uma arena romana, o mais forte, no sentido evolutivo da expressão, vence. Será que o Homo Separatam não poderia se chamar ou ser reconhecido também como um Hominídeo Contemporâneo? Deixo a dúvida!
Dentro de todo este cenário, uma situação é singular ao Homo Separatam, ele desenvolveu a emoção, a afetividade, os sentimentos, talvez ainda não de forma plena, mas o suficiente para corroer-se frente ao isolamento que ele mesmo se propõe. Andamos na direção aposta aos pensamentos de inúmeros pensadores e cientistas quando dizem como somos seres sociais por excelência.
O Homo Separatam pode ser personificado no Adão, do mito da criação, quando dizia que se sentia só, mesmo tendo todo o mundo para si. Mas sozinho todo o mundo não fazia sentido.
Enfim, o que importa é: como sairemos de todo este quadro que se apresenta? Nos tornaremos melhores humanamente? Conseguiremos enxergar no outro, na sociedade, um pouco de nós mesmos? Ou preferiremos continuar trilhando os caminhos do isolamento? Vamos deixar o tempo passar, pois ele é implacável, e com certeza nos trará a resposta da nossa escolha: até quando viveremos a era do Homo Separatam?
Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.