Conta o mito que Sísifo, um personagem da mitologia grega, foi condenado a executar todos os dias uma mesma tarefa, rolar uma pedra de tamanho razoável até o alto de uma montanha e chegando lá ele deveria jogá-la morro abaixo. No outro dia a pegaria novamente e executaria a mesma coisa de sempre: subiria rolando a pedra e chegando no alto jogaria morro abaixo. E assim cotidianamente.
Ao carregar a pedra Sísifo foi condenado ao trabalho inútil, que não serve para nada além de preencher o tempo. Todavia, a brilhante história, que originalmente foi contada pelo filósofo Albert Camus, em 1941, permite-nos reflexões pertinentes aos dias atuais, principalmente por vivermos em uma era atormentada pelo desânimo, pela descrença, pelo abatimento de propósitos e objetivos. Estranho, mas vivemos uma época de falta de sentido, fazemos muitas coisas mas elas não nos preenchem, justamente por não vermos sentidos nelas.
O “Setembro Amarelo”, mês reservado para as reflexões em torno do suicídio, fornecem claramente a ideia desta falta de sentido para com as coisas e a própria vida, sem falar que a depressão é considerada por muitos a doença do novo milênio.
A vida quando perde o sentido, torna-se, com base no Mito de Sísifo, inútil, sem graça, sem cor, sem entusiasmo. Tornamos nossa vida uma labuta sem propósito. Mas o que está acontecendo com a humanidade? Por que estamos perdendo o sentido da vida? Qual o motivo de tanta falta de motivação? Encontrar respostas não está sendo uma tarefa fácil.
Um dia desses conversando com um grupo de amigos, falávamos das ineficiências de algumas profissões: o policial se sente secando gelo; o professor na árdua missão de tentar ensinar em uma sociedade que não valoriza o professor e nem tão pouco a educação; os jornalistas sérios presos aos interesses editoriais; os profissionais da saúde, na maioria dos casos, sem condições de trabalho; enfim, são tantos os exemplos que poderiam ser explorados porque mostram o quanto a maldição de Sísifo parece estar presente entre nós.
Precisamos urgentemente reverter este cenário, mas a grande questão é: como? Que algo precisa ser feito não há dúvida, as pessoas não aguentam mais. Um bom começo seria reconhecer que precisamos de fato alterar comportamentos, leis, paradigmas sociais e percepções da própria existência.
Precisamos fazer uma faxina mental, comportamental, ter coragem de admitir que o sistema de vida que criamos está engolindo nossa criatividade, deixando o mundo chato e afundando-nos na sensação da falta de sentido, o que nos leva à frieza, à perda de vontade, à morbidez de viver.
Sísifo não pode continuar sendo condenado dentro de cada um de nós. Carecemos de nos libertar deste fardo cruel. A sociedade, da qual cada um faz parte, necessita e clama por felicidade, por realizações, por sentido!
Walber Gonçalves de Souza é professor, escritor e membro as Academias de Letras de Caratinga, Teófilo Otoni e Maçônica do Leste de Minas