A democracia é uma das maiores conquistas que um povo pode almejar e possuir. Ela permite a liberdade de escolha que consiste na opção por pessoas, ideias, propostas, dentre tantas outras coisas; proporciona a possibilidade de participação, independente se seja de forma direta ou indireta e com ela podemos sempre mudar o rumo da história.
A democracia, que ao pé da letra significa “governo do povo”, não é um sistema de governo novo, os gregos já labutavam neste sentido. Todavia, mesmo antiga, no Brasil insiste em ser um embrião que se desenvolve muito lentamente, mas que a todo momento é perseguida pelo fórceps, na tentativa de abortá-la e extirpá-la do seu real sentido. Em seus 518 anos de história oficial, quantos governos podem ser considerados de fato democráticos? Vou além, podemos afirmar que no Brasil já existiu democracia no seu sentido mais real e pleno? Até mesmo o dito processo de redemocratização foi de fato um episódio democrático? As indagações seriam intermináveis.
Não obstante aos fatos históricos, a dita democracia brasileira vive um dos seus piores momentos, em um estágio precário, parece estar em coma profundo numa Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), amparada por um laudo que diz que o paciente, neste caso o país, encontra-se em estado de tremenda emergência, praticamente entre a vida e a morte. E quais as causas deste quadro patético e mórbido? Reflitamos algumas.
A democracia em nosso país foi aniquilada pela corrupção, que faz com que os interesses de poucos, e de forma sórdida, sejam predominantes aos reais desejos e necessidades da sociedade. A famigerada corrupção aos poucos detona os pilares da democracia. Podemos afirmar que a corrupção tornou-se a forma mais cruel de um governo, pois assim fazendo apresenta a carcaça de uma falsa democracia, mas no fundo age simplesmente para realizar os objetivos particulares dos seus pequenos grupos e a todo custo manter-se no poder.
A democracia do Brasil é golpeada a todo momento pelas falsas promessas dos candidatos aos poderes públicos, configurada no famoso golpe eleitoral, em que as mentiras criadas pelos marqueteiros de campanha dão o tom da enganação. Uma escolha balizada por mentiras não pode ser considerada uma escolha verdadeiramente cidadã e democrática.
Com tudo isto chegamos ao pior nível, quando a própria população não acredita mais em si mesma, não acredita que de suas escolhas a vida pode ser diferente, com rumos e ares de dignidade e justiça. Quando este dia chega e no Brasil infelizmente parece que chegou, a esperança é vencida, e como gado queremos ser simplesmente guiados. Assim abrimos mão da participação e jogamos a última pá de cal na maior conquista de uma sociedade: a democracia. Até quando, como diria Raul Seixas, com a boca escancarada cheia de dentes continuaremos esperando a morte chegar?”
*Walber Gonçalves de Souza é escritor e professor.