Tribunal dos escândalos
Quando o filósofo iluminista Barão de Montesquieu criou a Teoria dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), acredito que nem ele imaginaria que sua teoria seria aplicada em várias nações, bem como, se ele pudesse ainda estar vivo, acredito eu, estaria profundamente magoado com o que fizeram das suas proposições, em que transformaram aquela que deveria ser a mais democrática das organizações políticas, a existência e independência dos poderes.
Parece brincadeira o que os nossos dirigentes estão fazendo com o Estado brasileiro. Se não bastassem as imundícies e aberrações provocadas pelos poderes legislativo e executivo de uns tempos para cá, e cada vez mais profícuo, o judiciário também resolveu entrar na ciranda da politicagem destrutiva do país. E a exemplo dos outros poderes, tenta a todo custo convencer a opinião pública que está fazendo justamente o contrário, que estão moralizando e colocando em ordem as desordens da nação. Ledo engano!
Castro Alves já dizia, “países cujas constituições permitem que os políticos tenham foro privilegiado e que os próprios políticos nomeiam os juízes dessa mesma Corte, são pocilgas, hospícios legalizados em forma de nações”. Todavia é justamente isto que vem acontecendo paulatinamente, aparecem escândalos que se sucedem numa velocidade indizível. Todos envoltos por uma politicagem que beira a marginalização e banalização da Corte suprema do país.
Uma instituição que deveria ser respeitada, organizada, portadora da palavra final e de credibilidade das situações críticas do país vem aos poucos se transformando num circo de horrores. Sem respeito, sem credibilidade, se tornando mais uma peça na constante e nefasta manutenção do caos social em que o Brasil vive inserido há séculos.
Em pleno século XIX disse François Pierre Guillaume Guizot, “quando a política penetra no recinto dos tribunais, a justiça se retira por alguma porta”. No Brasil, ela não só se retirou dos tribunais, mas também entrou em exílio, deixando uma sociedade órfã, acéfala dos seus próprios direitos e deveres, pois estamos chegando a uma situação em que fica difícil afirmar o que é certo ou errado; o que podemos ou não; o que devemos ou não fazer.
Com isso nos transformamos ainda mais num povo sem valores, sem princípios, sem limites, sem honra, sem caráter. Um povo que mesmo sem perceber ou fingindo não querer perceber fomenta tudo aquilo que ele deveria combater.
Os escândalos que acontecem na mais alta Corte do país denotam a morte deste modelo viciado das indicações políticas. Não é possível acreditar que nosso país poderá se tornar sério enquanto esta forma imperar. As leis não podem mais se tornar reféns daqueles que preferem ficar à margem da justiça. Nossas leis não podem ser marginais! Nem tão pouco aqueles que as criam e julgam. Data vênia, infelizmente, isto aconteceu!
*Walber Gonçalves de Souza é professor e membro das Academias de Letras de Caratinga (ACL), Teófilo Otoni (ALTO) e Maçônica do Leste de Minas (AMLM).