Fico imaginando como serão os estudos históricos e sociais daqui a uns 300 anos ou mais. O que falarão da nossa época? Que interpretações serão feitas? Quem serão os chamados vencidos e os eminentes vencedores? Como seremos identificados e mencionados nos anais da história, nas discussões em sala de aula? Como seremos usados como exemplos e ponderações em textos, livros e artigos?
Parecem simplórias as perguntas bem como as eventuais respostas, mas será que são mesmo? Num futuro não tão distante quais as fontes históricas merecerão credibilidade? Até mesmo os indicadores considerados como oficiais, fornecidos por agências ou órgãos governamentais, serão confiáveis e aceitos como portadores fiéis do retrato social?
Como o nosso tempo é estranho! Lutamos pela liberdade de expressão, conquistamos oportunidades de termos voz, haja visto as redes sociais; acredito que seja muito mais fácil publicar um livro nos nossos dias do que em épocas passadas; e mesmo assim que tempo estranho o nosso! Conquistamos os meios e os enchemos de besteiras, mentiras, calúnias, distorções da linguagem para traçar um discurso politicamente correto. Estamos resgatando com excelência e ainda mais elaborada, os discursos de muitos gregos antigos que eram reconhecidos como os mestres da enganação e ferrenhamente combatidos pelos filósofos. Aos poucos muitos de nós, a exemplos dos ludibriadores gregos, estamos nos tornando os reis da falácia, das mentiras com ares de verdade.
Nossa democracia, por permitir e incentivar a liberdade de expressão (e ainda bem que ela existe), acabou gerando um efeito colateral que pode ser considerado, no mínimo nocivo para ela mesma, pois nossas falácias proporcionaram uma profunda crise de credibilidade; e dela a inversão dos valores institucionais onde a própria democracia começa a ser percebida por muitos, como algo já ultrapassado ou que não atende mais aos interesses da população.
A era da transparência, devido aos tantos meios de informação e comunicação, tornou-se a era da crise da credibilidade, pois infelizmente não sabemos mais em quem acreditar. As pessoas perderam a credibilidade; os líderes não lideram mais; as instituições, algumas milenares, estão passando por momentos tensos de falta de confiança de muitos dos seus seguidores.
E como combater este efeito colateral? Seria possível? Complexo demais! Ainda mais quando se trata de um povo que lê pouco, interpreta mal; e dentre os poucos que fazem o contrário, muitos são contaminados pela visão de ler sempre os mesmos autores ou aqueles que comungam e defendem as suas próprias ideias. Assim nos afastamos do contraditório, da famosa dialética de Platão e vivemos o salve-se quem puder. E a crise da credibilidade a cada dia se agrava mais. Infelizmente!
Walber Gonçalves de Souza é professor e membro das Academias de Letras de Caratinga (ACL), Teófilo Otoni (ALTO) e Maçônica do Leste de Minas (AMLM).