Combater a autossuficiência é uma guerra antiga que vem sendo travada pela humanidade no decorrer dos séculos. Este sentimento aflora a percepção de que somos imbatíveis, infalíveis, donos do tempo, da vida e de tudo aquilo que está ao nosso redor.
A autossuficiência criou um ser humano que acredita ser o todo poderoso, capaz de tudo, que consegue mudar a lógica das coisas, inverter os rumos da própria natureza, não só ecológica/ambiental mas também a natureza que caracteriza qualquer um de nós.
Acreditando ser um ser com poderes intermináveis viu-se colocando tudo e todos em um laboratório constante, onde o outro, a vida, e tudo aquilo que o circunda não passa de um objeto para ser usado a seu bel prazer, inclusive chegando ao ponto de ser descartável.
Assim, fomos criando um ser fechado em si mesmo, que aguçou um individualismo extremista e porque não dizer um individualismo fundamentalista. Que defende a todo custo suas próprias convicções mesquinhas e fechadas em si mesmo. Parece que o conhecimento que adquirimos não está permitindo que abramos os nossos olhos nem a nossa mente, ele parece ainda estar preso ao papel timbrado que comumente chamamos de diploma. Parece ser um conhecimento que endurece a alma e não a enobrece.
Todavia, sabemos que não somos assim, não nascemos para vivermos sozinhos, não nascemos para nos realizarmos sozinhos, não nascemos para estarmos sozinhos, não nascemos por nascer. Nossa existência se completa justamente no encontro com o outro. Quando somos capazes de nos unirmos, de nos cuidarmos, de criarmos laços e redes de amizades...
Aristóteles, um dos grandes filósofos da humanidade, já defendia a tese de que somos seres sociais por excelência, que nossa vida só faz sentido quando conseguimos criar um ambiente em que a vida em toda a sua plenitude e variações aconteça de fato.
Nesta direção, faz-se urgente combater o resultado perceptível da autossuficiência do nosso tempo, que é o mal provocado pelo desumano individualismo. Faz-se necessário o combate incessante deste sentimento que nos afasta, que corrói a alma, que cega o ser, que endurece o coração.
O individualismo que percebemos na modernidade está deixando o ser humano vazio, sem rumo, sem prumo, sem valores que fazem dele um ser melhor. A autossuficiência fez o ser humano brigar consigo mesmo e aflorar nele uma crença que se transfigurou nesta famigerada onda de acreditar que tudo pode.
Dizem que das crises surgem as grandes mudanças, oxalá seja verdadeira esta assertiva. Pois precisamos ultrapassar este estágio de pequenez. Pois só assim daremos um grande avanço e quem sabe começaremos a acreditar em nós mesmos novamente.
E como todos nós sabemos, que nenhum ser humano é uma ilha, completo e fechado em si próprio. Somos compartícipes da arte de viver.
Walber Gonçalves de Souza é professor e membro das Academias de Letras de Caratinga (ACL), Teófilo Otoni (ALTO) e Maçônica do Leste de Minas (AMLM).