Como é do conhecimento de todos, êxodo rural é o processo de migração, vagarosamente ou em massa, da população do meio rural para as grandes cidades, podendo ocorrer em um curto ou longo período de tempo.
Em nosso país isso ocorreu, em grandes proporções, nas décadas de 60 e 80, mas ocorreu também, embora em menor escala, nas demais décadas e ainda vem acontecendo nos dias atuais, principalmente para as cidades de grande porte.
Várias são as causas desse fenômeno, as quais podem variar com a região ou com o passar do tempo. Dentre as principais podemos citar: 1ª – Busca de melhores condições de vida; 2ª - Mecanização do setor agropecuário, com a substituição total ou parcial da mão de obra por máquinas agrícolas; 3ª – Leis que impedem ou dificultam a manutenção ou fixação do homem no meio rural; 4ª – Falta de incentivo aos produtores por parte dos governos municipal, estadual e federal; 5ª – Longos e frequentes períodos de estiagem; 6ª - Ausência de infraestrutura e serviços nos setores essenciais como educação, transporte e saúde; 6ª – Excesso de protecionismo por parte dos governos, principalmente na distribuição de “bolsas” sem o devido controle e observância de suas reais necessidades; 7ª – Desativação das escolas no meio rural; 8ª – Maior oferta de emprego no setor urbano; 9ª – Sindicatos que, as vezes, incentivam o desacordo entre o patrão e o empregado; etc.
As consequências de todo esse processo estão aí estampadas nos jornais e na mídia de um modo geral: crescimento desenfreado e desordenado das periferias urbanas, o que vem provocando a formação e crescimento das favelas, cujas cidades não estão preparadas para receber um grande número de migrantes; ausência de mão de obra no campo para plantio, cultivo e colheita, principalmente para as culturas perenes como o café, citros e a cana-de-açúcar; crescimento da economia informal, provocado pela escassez de emprego também no setor urbano das cidades; etc.
Antigamente os fazendeiros construíam casas para seus antigos colonos e, quando um dos filhos de tais funcionários constituía família, era construída nova uma nova residência para o mesmo, o qual prestava seus serviços desde criança nas referidas fazendas. Na conjuntura atual, se o fazendeiro proceder da mesma forma, possivelmente perderá suas terras e ainda terá que fornecer uma volumosa indenização aos esses empregados. O que se vê hoje em dia são casas derrubadas, desmoronadas ou abandonadas na grande maioria das propriedades rurais.
No Passado existiam escolas no meio rural, onde as crianças tinham mais comodidade para pelo menos para iniciarem seus estudos e ainda, após retornarem das aulas, ajudavam em pequenas tarefas em suas residências ou até mesmo nas fazendas cujos pais trabalhavam. Hoje os alunos, que ainda restam no meio rural, são conduzidos para as escolas urbanas, com muita perda de tempo e perigo constante durante tal translado.
Nos dias de hoje as crianças não podem mais trabalhar, mas podem ser usadas ou transformadas em pedintes nos sinais de trânsitos e nas ruas das cidades ou assistir “apresentações artísticas” pornográficas nas exposições promovidas por agentes financeiros ou pelos grandes canais de televisão.
Enquanto falta mão de obra nas fazendas, os bares, as praças e as ruas estão cheios de pessoas ociosas, bebendo, fumando ou jogando e vivendo ás custas de “bolsas” oferecidas por um governo incompetente, inconsequente e mal-intencionado. Que usa a ingenuidade ou a fome dos necessitados para angariar votos..
Talvez seja como um grão de areia no deserto ou uma gota de água no oceano, mas a minha experiência, adquirida após mais de 35 anos de trabalho em contato direto com o homem do campo, me permite lançar algumas sugestões para tentar, pelo menos, amenizar esse problema: 1ª – Modificação das leis trabalhistas, com leis diferenciadas ou distintas entre os setores rural e urbano, permitindo ou facilitando ao produtor rural a contratação de mão de obra temporária sem a necessidade de vínculo empregatício (registro em carteira de trabalho). Seria efetuado apenas um contrato temporário, válido por 3 a 4 meses, período suficiente para a execução da colheita das culturas perenes. Poderia ser pago apenas uma taxa “per capta” ao INSS, para assegurar o trabalhador durante o período contratado; 2ª – Modificação das leis facilitando ou permitido ao produtor rural fornecer moradia ao trabalhador, durante o tempo de trabalho, sem que o empregador corra o risco de perder sua casa ou um pedaço de terra, quando tal funcionário fosse dispensado; 3ª – Volta das escolas no meio rural, para que o aluno tenha mais comodidade e assiduidade em seus estudos; 4ª – Postos de Saúde, ou pelo menos Ambulatórios, com atendimento médico no meio rural, pelo menos uma vez por semana; 5ª – Menos protecionismo por parte dos governos, para que a pessoa tenha a necessidade de trabalhar para sustentar sua família; 6ª – Incentivo social e financeiro ao produtor rural, com assistência técnica e crédito rural facilitado e sem burocracia, etc.
Os municípios, principalmente os pequenos, cuja renda principal advém da produção agrícola, acabam sendo severamente prejudicados por esse êxodo rural, com a diminuição de sua população, de sua produção agrícola e a consequente queda em sua arrecadação.
O que está faltando mesmo é vontade política e comprometimento dos governos com o produtor e o trabalhador rural, para que o homem do campo possa exercer sua profissão com mais dignidade e tranquilidade.
Geraldo Neves dos Reis, ex-funcionário do Instituto Brasileiro do Café e Ministério da Agricultura, engenheiro agrônomo e fiscal federal agropecuário aposentado, membro da Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas, escritor com dois livros já lançados, membro e atual Secretário da Loja Maçônica Caratinga Livre, Radialista, diretor de uma Rádio Comunitária em Vargem Alegre e confrade da Sociedade São Vicente de Paulo.