Geralmente a história, além de outros aspectos, é um conjunto de fatos que de alguma forma marcaram um determinado tempo e lugar. Mais precisamente no dia 5 de novembro de 2015 ocorreu um destes fatos marcantes: o rompimento da barragem de rejeito de uma mineradora em Mariana.
O fato ocorrido em Mariana é considerado pelos especialistas o maior acidente ambiental registrado na história recente do Brasil. O mar de lama que seguiu de Mariana até a foz do Rio Doce deixou um rastro de destruição, desolação, tristeza, morte, abandono, impunidade e indiferença.
Passados dois anos da tragédia, que lições podemos tirar deste desastre ambiental de dimensões incalculáveis? Vejamos alguns pontos:
- O ser humano parece estar perdendo a noção de que está autodestruindo. O acidente não afetou somente os moradores das áreas atingidas, eles com certeza foram atingidos diretamente, mas fatos que parecem ser isolados vão se juntando a tantos outros, e quando menos esperarmos tudo estará destruído, podendo a sustentabilidade da vida não ser mais viável.
- Pode-se perceber o retrato fiel do que acontece no Brasil, pois sabemos que em nosso país, além do mar de lama há também um mar de corrupção. Sou capaz de acreditar piamente que a fiscalização regular da barragem não acontecia como deveria; que as outorgas e autorizações expedidas pelos órgãos públicos não deveriam ser concedidas como foram; que a corrupção fechou os olhos dos responsáveis pela noção do perigo que poderia acontecer e que acabou se concretizando; sou capaz de acreditar convictamente que em nenhum momento o meio ambiente e as pessoas que moram no curso do desastre foram sequer lembrados; tenho convicção que até hoje os responsáveis pelo acidente não estão nem um pouco preocupados com as famílias, suas perdas e consequências ambientais ocorridas. Tenho toda a certeza do mundo e infelizmente acredito que posso afirmar, que outras fatalidades, a exemplo da tragédia de Mariana, movida por irresponsáveis poderão ocorrer a qualquer momento e pelos mesmos motivos.
A tragédia de Mariana demonstra ser mais uma radiografia fiel do nosso Brasil: o país da impunidade. Claro que não devemos viver a era da caça às bruxas, mas também não se deve viver a era da impunidade total. O desastre de Mariana reforça este sentimento de um país que ainda não consegue de fato regular-se no que é certo ou errado. Um país que privilegia determinados segmentos da sociedade que mantêm descaradamente a estupidez da segregação social. Onde a fortuna de poucos é movida pela pobreza de muitos.
Enquanto isto, dois anos se passaram e milhares de pessoas estão à mercê da sorte de que alguma coisa aconteça para que a vida possa, mesmo que em outra dinâmica, voltar à sua normalidade. Mas como vivemos no Brasil, tudo pode acontecer, inclusive nada!
Walber Gonçalves de Souza é professor e membro das Academias de Letras de Caratinga (ACL), Teófilo Otoni (ALTO) e Maçônica do Leste de Minas (AMLM).