Walber Gonçalves de Souza é professor e
membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni.
(prof.walber@hotmail.com)
Assim disse Cabral, encontramos uma terra maravilhosa, aqui tudo que se planta dá. Desde o dito descobrimento oficial das terras brasileiras daqui sempre se tirou alguma coisa. Extraíram o pau-brasil; logo em seguida formaram, de acordo com as condições da época, uma esplendorosa “indústria” do açúcar, a melhor do mundo para o período; passados alguns séculos é a vez do ouro, a descoberta da Vila Rica, hoje patrimônio mundial da humanidade, conhecida como Ouro Preto, toneladas de ouro saíam das terras mineiras rumo ao “velho mundo”. Sem falar nas intermináveis e diversificadas plantações de grãos, frutas...; na criação dos mais diversos tipos de animais para o consumo humano; e nas incalculáveis fontes de matérias-primas e fontes de energia. Resumindo somos um país rico.
Mas algo parece estranho, da nossa maior qualidade, que é a fartura em tantos setores da economia, deriva o nosso caos. Nossa gestão pública em todos os seus níveis, consegue ser tão desastrosa que acaba por colocar toda a nossa riqueza, nossa fartura, em constante risco, isto quando não o faz de fato. Por isso, somos um país rico que se mantém como uma nação de pessoas pobres, não só no sentido financeiro, mas infelizmente no seu pior sentido, que é a pobreza de espírito.
Desde Cabral criou-se uma cultura da usurpação das coisas públicas. Nossa gestão pública ineficiente e burocrática, une-se aos interesses mesquinhos e provincianos de boa parte dos empresários brasileiros e o resultado é uma ciranda da mediocridade, popularmente conhecida como corrupção e que atola ainda mais a nação neste caos social no qual secularmente estamos inseridos.
Ainda não conseguimos perceber as reais necessidades da nação, o que de fato deve ser prioridade em uma gestão. Seguimos um modelo viciado em gastar mal, sem critérios republicanos e que cria uma máquina administrativa emperrada em si mesma.
Do cafezinho ao elefante branco sempre se quer tirar proveito de alguma coisa. O que observamos no Brasil é que o primeiro critério para realização dos atos administrativos, que deveria ser real a necessidade da população transforma-se no jargão “o que que eu vou ganhar com isto”, que vantagem eu vou levar.
Assim o preço do cafezinho transforma-se no preço de uma garrafa de um bom vinho; uma marmitex no preço de uma refeição em um restaurante de luxo; um lenço umedecido no preço de uma fralda geriátrica; o gasto na construção de uma obra qualquer em um preço que daria para se construir no mínimo outra no mesmo padrão. São tantos os exemplos, que chega a ser ridículo o que presenciamos todos os dias.
Parece que está tudo errado e na verdade está mesmo. A inversão dos valores também chegou na gestão pública. E pelo visto só há um caminho: quebrar este paradigma da mediocridade, se é que seja possível, pensar e agir mirando nos rumos da eficácia da gestão pública, onde a prioridade será o norte a ser seguido.