Uma essência a desvendar
Me chega à penumbra dos sonhos
Trago sempre um lírio na lapela, um fulgor frenético,
uma orla escondida, um coração estilhaçado em menor degrau
Sob a lua exaurida, flui-se um mar sigiloso, interminável torvelinho, tramas.
No vestígio dos corpos celestes, carrego sempre olências que pairam, resquícios de sol
Sementes de luz, retalhos argenteados
Sei que, nos teus lábios, nunca soube sentir o tempo,
porque és mais lépido na maciez de suas mãos
Por isso no barco sombrio que me invade,
na mão trago sempre uma querena de remanso
um arrimo verde, um rol de velas rosadas
Numa palavra fluida, ondula por vezes, um lábio insensato,
uma curva abrasada um ponto de evasão
Por isso nos caudais de seda, trago sempre na lapela, uma orla, uma rebeca,
um medidor flutuante, um resquício de cal, uma calda de lava,
um farrapo de estrela, a pairar o vento num colo de luz, por entre um olhar límpido, uma ninfeia intacta, ou a olência de um gerânio adormecido em páginas.
Aucione R. Silva